quarta-feira, 12 de março de 2014

GUERRA PELA AGUA ENTRE OS MUNICIPIOS DE CAMPINAS E A CIDADE DE SÃO PAULO

Guerra de SP e Campinas chega à agência nacional

iG Paulista - 12/03/2014 - 10h54 | 
Maria Teresa Costa | teresa@rac.com.br
Represa da Cachoeira seca; pedras e fundo à mostra em ponto de captação
Foto: Divulgação
Represa da Cachoeira seca; pedras e fundo à mostra em ponto de captação
A presidente da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp), Dilma Pena, quer a interferência da Agência Nacional de Águas (ANA) na mediação do conflito pela água entre a região de Campinas e Grande São Paulo para evitar o que ela chama de “politização em termos inadequados” da disputa pelo Sistema Cantareira.

Dilma respondeu às críticas do Consórcio PCJ de que a Sabesp está colocando em risco a vida útil do Cantareira ao não querer adotar racionamento de água em São Paulo.
 
O Conselho Fiscal do consórcio definiu ontem que haverá uma grande manifestação na segunda quinzena de abril, em Piracaia, na ponte em que o reservatório Jaguari/Jacareí está seco, para chamar a atenção para a crise hídrica enfrentada pelas bacias PCJ e Alto Tietê.

O governador Geraldo Alckmin (PSDB) voltou a descartar ontem racionamento em São Paulo e afirmou que, a partir de abril, com as adequações nas instalações que permitam transferência de mais água do Guarapiranga para atender bairros da região Oeste, cerca de 3 milhões de pessoas deixarão de usar água do Cantareira.

Para o Consórcio PCJ, no entanto, essa manobra leva à falsa impressão de que a Grande São Paulo está totalmente protegida e que possui um sistema interligado, de vários reservatórios, que garante seu abastecimento em qualquer situação.
 
“Tais reservatórios existem, mas são insuficientes para garantir o abastecimento da Grande São Paulo, principalmente em período de estiagem”, afirma a entidade.

Para o Ministério Público (MP), não existe politização do tema, mas sim mau gerenciamento do Cantareira, que culminou em prejuízos para as bacias PCJ. 

“Nossa região tem sofrido ônus desproporcional em relação a São Paulo. Na outorga de 2004, foi definido que a Sabesp deveria ter buscado formas de reduzir sua dependência do Cantareira, mas não o fez. A empresa fala que atuou na redução de perdas, mas isso não é reduzir a dependência. Reduzir é retirar menos água do sistema”, disse a promotora do Grupo de Atuação Especial do Meio Ambiente (Gaema) Alexandra Facciolii Martins.
 
 
 
 
Régua que mede o nível da água no reservatório Jaguari/Jacareí, em Piracaia: sem mais nada para medir
 
 
 
 
 
A promotora afirmou ontem, em reunião do conselho fiscal do consórcio, na Câmara de Campinas, quando foi aprovada a Carta de Campinas, que a empresa paulista se recusa a falar em racionamento de água, mas que a medida é uma necessidade para evitar um mal maior.
 
“Hoje, trabalhamos com a vazão primária, de 3 metros cúbicos por segundo (m³/s), mas a Grande São Paulo não, e está tirando mais que a vazão primária definida na outorga. Isso é tratamento diferenciado. O comitê anticrise recomendou que fossem suspensas novas outorgas de água nas bacias dos rios Jaguari, Atibaia e Juqueri, mas os gestores publicaram resolução suspendendo apenas nos rios Jaguari e Atibaia. Esse tratamento diferenciado não é admissível”, disse.

Para o promotor de Campinas Geraldo Cabañas, o ideal seria que o volume de água que entra no Sistema Cantareira, nas represas que enviam água para as Bacias PCJ, fosse liberado para a região para manter a vazão ecológica do rio.
 
“A situação que estamos vivendo deve gerar ações mais contundentes da região e não essa passividade dos atores políticos que não estão olhando como deveriam a crise e estão deixando o governo do Estado dizer que tira isso e aquilo do sistema, se esquecendo das questões técnicas”, disse. Cabañas afirmou que a partilha da água tem que ser feita de acordo com o que entra no sistema.

Racionamento
 
O pesquisador da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e especialista em recursos hídricos Antônio Carlos Zuffo defende a adoção imediata do racionamento de água em São Paulo para evitar uma catástrofe a partir de outubro.
 
“Vejo políticos tomando decisões para as quais eles não têm conhecimento e isso é preocupante. Estamos gerenciando crise de abastecimento e não mais de recursos hídricos e, se continuarmos com esse tipo de gestão, logo teremos suspensão de outorga para indústria, que vai ter que trabalhar duas ou três vezes por semana apenas, com riscos de desemprego. E isso é um risco sério demais para continuar sendo tratado como se nada estivesse ocorrendo”, afirmou.

Para o secretário do Consórcio PCJ, Francisco Lahoz, a economia do Brasil está ameaçada com a crise do Sistema Cantareira.
 
“Se São Paulo não restringir imediatamente a retirada de água para que o sistema tenha uma reserva estratégica para os meses de estiagem, as duas regiões com os maiores PIBs do País, São Paulo e Campinas, enfrentarão risco de calamidade e poderá ser a falência do País”, criticou.
 

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