domingo, 30 de novembro de 2014

CIDADES E A CRISE HÍDRICA NA BACIA DO PARAÍBA DO SUL

Cidades precisam se preparar para enfrentar estiagem longa

Carro que estava debaixo d
Carro que estava debaixo d'água na represa Jaguari. Foto: Claudio Vieira
Cientistas e especialistas em recursos hídricos alertam que se 2015 for tão seco quanto foi este ano, os reservatórios de água vão secar e a saúde da bacia do rio Paraíba estará seriamente comprometida
Xandu AlvesSão José dos Campos
A água é o bem mais precioso do mundo. Esqueça petróleo, moeda, economia. Bem ou mal, um país funciona sem isso. Mas não vive sem água potável, e ela começa a dar sinais de saturação.
No Brasil, que concentra 12% de todos os recursos hídricos do mundo, a região Sudeste passa pela pior seca dos últimos 84 anos. Problema pontual? Ou fruto de mudanças climáticas que poderão afetar o regime de chuvas no país?
“As cidades têm que se preparar para enfrentar períodos mais longos de estiagem”, disse o climatologista e cientista Carlos Nobre, secretário de Políticas e Programas de Pesquisa e Desenvolvimento do Ministério da Ciência e Tecnologia.
“As mudanças climáticas são evidentes e a Terra está mais quente. Não se discute mais isso, e o Vale do Paraíba não está imune.”
Setembro e outubro deste ano foram mais secos que a média histórica. O Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) registrou 20% a menos de chuva no país em 2014 (até 31 de outubro) e 60%, no Vale do Paraíba.
E isso é um péssimo sinal, explica Nobre, pois trata-se de período de transição para a estação chuvosa. Mas o cientista diz que não é possível afirmar que 2015 será seco como foi este ano. “A ciência não consegue prever com tanta antecedência”.

Represas. Se for tão seco, diz o geólogo Edilson Andrade, a saúde dos reservatórios de água da bacia do rio Paraíba do Sul, o mais importante para a região, estará seriamente comprometida.
“Eles vão secar e entrarão no volume morto, que é uma água mais difícil de tirar e com qualidade inferior.”
Os sinais de esgotamento são visíveis. Basta visitar qualquer uma das três principais represas da região --Paraibuna, Santa Branca e Jaguari-- e perceber como o nível de água caiu absurdamente, chegando a 30 metros a menos de altura em alguns pontos.
Para efeito de comparação, os reservatórios registravam volume útil de água, no final de outubro do ano passado, de 47,34% (Paraibuna), 68,34% (Santa Branca) e 51,21% (Jaguari), com o reservatório equivalente (média entre as três mais a represa de Funil) chegando a 48,2%. No mesmo período de 2014, os registros foram mais baixos --5,11%, 4,83% e 10,87%, com o reservatório equivalente em 6,8%.
“Paraibuna, a maior e mais importante represa da bacia, vai entrar no volume morto até 15 de dezembro caso não chova muito”, aponta a vereadora Renata Paiva (DEM), de São José, uma das lideranças na região na defesa da água.
As represas funcionam como caixa d'água da bacia. Elas controlam a vazão do rio Paraíba, segurando ou vertendo água conforme a necessidade. Mas secas como estão, tornam-se mais uma paisagem singular do que ferramenta hídrica. Os sinais estão aí.
Como diz o ditado: “Respeite a natureza, mas nada garante que ela vai te respeitar de volta.”

Unesp debate crise hídrica na regiãoO Parque Tecnológico de São José será palco do seminário “Desafios e Ameaças da Escassez Hídrica para o Vale do Paraíba”, terça-feira, às 14h. A entrada é gratuita. Organizado pelo Instituto de Ciência e Tecnologia da Unesp, o evento quer discutir a crise e saídas para ela. “Debater como podemos contribuir”, disse a professora Fabiana Fiore.

Água é tema de série especial de O VALEO VALE publica até o próximo domingo série especial sobre a água. Serão abordados problemas, consumo de água e projetos para recuperar a bacia do Paraíba, além do modo de vida de comunidades ribeirinhas. Especialistas mostrarão a extensão da seca e como será 2015. Na terça-feira, o tema será a bacia: diagnóstico, disputa pela água e mobilização em defesa dela.
 

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