November 18, 2012 - 02:44
Ecologistas criticam expansão
Extração de areia - Foto: Wandell Marques/OVALE
Ambientalistas e empresários do setor minerário estão em lados opostos quando o assunto é a expansão da extração de areia na região; os ‘verdes’ dizem que a exploração afeta e degrada o meio ambiente
Xandu AlvesSão José dos Campos
Se juntar os dois lados, com certeza, vai entrar areia na discussão. Ambientalistas e empresários do ramo minerário têm visões opostas sobre o futuro da extração de areia no Vale do Paraíba.
A maior parte dos ecologistas descarta a expansão da atividade e critica o passivo ambiental deixado na região, com centenas de cavas e estruturas abandonadas.
Em Jacareí, por exemplo, um antigo porto de areia no bairro Bandeira Branca está abandonado com estruturas metálicas, todas enferrujadas, erosão na encosta e uma imensa lagoa sem tratamento.
Os empresários admitem erros do passado, mas defendem os negócios afirmando que a legislação e a fiscalização estão mais rígidas, o que torna mais eficiente a lavra de areia.
No meio do caminho, outros especialistas sugerem um meio termo entre os dois grupos: uma exploração sustentável e controlada pelo poder público, que garanta a areia para o desenvolvimento das cidades ao mesmo tempo que proteja o meio ambiente (leia texto nesta página).
Do contra. “Várzea é vida”. Com esse bordão, o geólogo e pesquisador do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), Paulo Roberto Martini, resume a sua contrariedade quanto à exploração de areia na região.
“Quando se faz a cava, afunda a calha do rio e modifica o nível básico de erosão. Aumentando, recomeça a erosão nas serras, escorregamento, instabilidade das vertentes. É isso que queremos?”, questiona.
Para o ambientalista Vicente Cioffi, a extração ainda pode despejar metais pesados no rio. “Para nós, São José não quer cava e não pode voltar. Já é caso consolidado”, afirma.
“O que se exige das empresas antecipadamente não é suficiente. Desaparece a mineradora e desaparece o compromisso”, diz o arquiteto e urbanista Flávio Mourão.
Para o secretário de Meio Ambiente de São José, André Miragaia, as cavas abandonadas carecem de plano futuro. Sem recuperação, quem paga a conta são as cidades.
A favor. O VALE procurou empresários do setor areeiro da região e apenas dois deles concordaram em conceder entrevista, mesmo assim pedindo para omitir o nome.
“As críticas ao setor são muito fortes, mas nem todas têm fundamento”, disse um deles, comentando que as empresas “estão melhor fiscalizadas e seguindo a legislação”.
Outro empresário disse ser favorável à expansão da área de extração de areia para dar conta da demanda, sempre crescente. Produto barato, a produção de areia está cada vez mais distante dos grandes centros. “O Vale tem papel estratégico nessa área”, disse.
EXPLORAÇÃO
Debate na Câmara de S.José fica para 2013
São José dos Campos
Após pressão do setor minerário, a Câmara de São José dos Campos chegou a aprovar uma lei, em 2001, aprovando a exploração de areia no território da cidade, atividade proibida desde 1994. Mas o Tribunal de Justiça de São Paulo suspendeu os efeitos da lei.
Desde então, a Câmara tenta regulamentar a atividade.
Porém, o desgaste do tema fez os vereadores desistirem de discutir o assunto neste ano. Vai ficar para a próxima legislatura.
Reeleito, o presidente da Comissão de Planejamento Urbano, Habitação e Obras, Walter Hayashi (PSB), disse que a atividade seguirá proibida na cidade. E que esse deve ser o tom também no próximo ano.
“Essa matéria não tem como ir para a frente. O Estado está tratando disso e, em São José, a exploração de areia continuará proibida.”
A mesma opinião tem o secretário de Meio Ambiente de São José, André Miragaia.
Para ele, a cidade tem que caminhar para incentivar formas alternativas na construção civil, como a recuperação de resíduos.
Em razão do feriado prolongado, nenhum diretor do Sindareia (Sindicato das Indústrias de Extração de Areia do Estado de São Paulo) foi localizado para comentar o assunto.
SAIBA MAIS
Tipos de areiaDefinida pelo diâmetro de seus grãos e pelo percentual de mineral quartzo. Areias muito puras em quartzo são aproveitadas na indústria de vidros e de cristais. Areias mais impuras são utilizadas na construção civil
Formas de extração
Por cavas, no leito do rio (que foi proibida) e por desmonte hidráulico. As cavas são buracos na várzea do rio em que a areia é retirada sobrando a água. O desmonte joga água em barrancos para tirar areia
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