quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

O INCÊNDIO NO MACIÇO DOS MARINS MONA ITAGUARE

a montanha

No final do dia 18 de outubro de 2014, tarde de sábado, um incêndio florestal começou a queimar a face sudeste do maciço dos Marins, no município de Cruzeiro, estado de São Paulo.

Segundo relato de moradores a causa teria sido um raio, que embora tenha vindo acompanhado de uma chuva forte, porém localizada, encontrou na vegetação extremamente seca as condições ideais para a propagação do fogo. A hipótese de causa natural para o incêndio é reforçada também pela dificuldade de acesso ao local, um trecho extremamente acidentado na serra da Mantiqueira paulista.

A alta visibilidade da área, no eixo Rio-São Paulo em pleno vale do rio Paraíba, e o risco de que o fogo pudesse se alastrar para outras áreas da serra, resultou em rápida mobilização de diversos setores da sociedade desde as primeiras horas da manhã de domingo. O Exército Brasileiro, utilizando um helicóptero Pantera, possibilitou o diagnóstico da situação e a confirmação da impossibilidade de acesso por via terrestre em tempo hábil. A única alternativa de combate seria com apoio de outro helicóptero, o Águia, da Polícia Ambiental estadual, equipado para lançar água sobre os focos de incêndio, mas que só poderia ser disponibilizado no dia seguinte.

A rapidez e o número de envolvidos na mobilização surpreende quem conhece as dificuldades do combate a incêndios florestais em áreas montanhosas de difícil acesso. Segundo Ronaldo Madureira, secretário de Meio Ambiente do Município de Cruzeiro, “contando com os jovens da Associação de Montanhismo e Proteção da Mantiqueira (AMPM), que deram o primeiro alarme de fogo na região, até a equipe que sobrevoou o incêndio, mais de 30 pessoas colaboraram nessa operação sem precedentes. A Defesa Civil, a Secretaria de Meio Ambiente de Cruzeiro, os Bombeiros, o Exército, a Polícia Ambiental, o Instituto Oikos e o pessoal da AMPM compuseram a equipe de operação em campo, enquanto representantes do Conselho Estadual de Meio Ambiente (Consema), Fundação Florestal e Instituto Chico Mendes - ICMBio (órgão federal gestor da APA da Serra da Mantiqueira), deram apoio logístico, especialmente na comunicação, (...) e preparando uma força-tarefa caso fosse possível e necessário uma intervenção para combate às chamas por terra”.

Virgílio Ferraz, analista ambiental do ICMBio, integrante da equipe da APA da Serra da Mantiqueira, estimou em 344 hectares a área atingida pelo incêndio. Quanto aos danos causados à biodiversidade, em virtude da dificuldade de acesso não foi possível precisar, mas todo incêndio em floresta causa danos à flora, à fauna e pode comprometer a recarga dos mananciais pelas chuvas, afinal, a regulação do ciclo hidrológico é uma das mais reconhecidas funções ecológicas proporcionadas pelas florestas e outras forma de vegetação nativa. A área atingida é uma das mais preservadas do maciço do Marins-Itaguaré.

Toda essa rápida e intensa mobilização de forças do poder público e da sociedade não precisou enfrentar a dura missão de combater o fogo diretamente, uma vez que chuvas intensas caíram na noite de domingo para segunda-feira. As chuvas apagaram o incêndio no maciço dos Marins e também em outros pontos da região.

Madureira destaca alguns aprendizados que a experiência proporcionou, como a aproximação do Município com especialistas em situações de emergência. “Dois dias depois da operação já me reuni com o Virgílio Ferraz, do ICMBio, que é o Gerente do Fogo da APA da Serra da Mantiqueira.   Pretendemos montar um treinamento profissional para brigadistas focados em incêndio na mata. Também estamos articulando com o Conselho Estadual do Meio Ambiente (Consema), através do conselheiro Marcelo Manara (membro-representante do Instituto Oikos), e com a Fundação Florestal, com o apoio do gestor Renato Lorza, um intercâmbio com a Operação Corta-Fogo, visando a prevenir e abordar de forma eficaz o problema.”

O Secretário não pretende deixar o assunto esfriar e planeja a realização de um Fórum Regional que possa reunir todas as instituições que participaram da mobilização, além de outros convidados, a fim de discutir e aprofundar o tema da preservação da Biodiversidade e das Florestas na Serra da Mantiqueira. Um dos resultados pretendidos é a consolidação de uma rede de preservação das matas e de prevenção e combate aos incêndios florestais, na serra da Mantiqueira e no vale do Paraíba.

O Instituto Oikos, organização da sociedade civil sediada em Lorena e um dos integrantes desse esforço conjunto, avalia que a relevância biológica, econômica e sócio-ambiental da Serra da Mantiqueira, reconhecida pelas prefeituras, universidades, sociedade civil e pelos governos Estadual e Federal, está a exigir planejamento efetivo e imediato para a prevenção e o combate aos incêndios florestais, com metas claras, ações e orçamento compatíveis à importância da região.

Após quase 15 dias de incêndios florestais em diversas áreas protegidas do sudeste brasileiro, a tragédia do incêndio num dos locais mais preservados e inacessíveis da Mantiqueira pode ter um desdobramento positivo: A união de diferentes forças da sociedade com o objetivo comum de valorizar esse extenso maciço montanhoso e proteger a natureza da destruição causada pelo fogo.

O sucesso da proposta será muito bom para todas as formas de vida e, em especial, para os humanos que, nos campos e nas cidades, dependem das águas que vertem da montanha.(LFC)
 

   


Fotos: Tiaraju Fialho 

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