segunda-feira, 28 de julho de 2014

MAPA DA SECA REVELA SITUAÇÃO DRAMÁTICA EM SP.

Mapa da seca revela situação dramática em SP

iG Paulista - 28/07/2014 - 13h25 | 
Gustavo Abdel | igpaulista@rac.com.br
Rio Tietê, o principal do Estado, na altura de Salto, com pedras que deveriam estar cobertas pela água
Foto: Carlos Sousa Ramos/ AAN
Rio Tietê, o principal do Estado, na altura de Salto, com pedras que deveriam estar cobertas pela água
O sistema hídrico do Estado de São Paulo vive o retrato da desolação. As principais bacias e rios que abastecem milhões de pessoas já registraram a pior seca dos últimos 80 anos, em diversas regiões, segundo estudos do Centro Tecnológico de Hidráulica e Recursos Hídricos do governo paulista.
 
Não é de hoje que especialistas alertam para o racionamento de água, mas governantes têm apostado as últimas fichas em captações alternativas.

Para compreender o momento de crise pelo qual passa o estado, o Correio mapeou a situação das principais bacias, reservas e rios, que em muitos casos se interligam.
 
Foram analisadas oito regiões e, em praticamente todas, a realidade é de pouca água, volume útil de reservatórios abaixo da média histórica e rios que praticamente se transformaram, ao logo dos primeiros meses deste ano, em pequenos riachos.

O nível dos reservatórios da região Sudeste registra a pior queda em 13 anos. De acordo com os últimos dados divulgados pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) — responsável pelo monitoramento de 22 represas no País —, em junho a situação das bacias dos rios Paranapanema e Grande era de atenção.

E é justamente no Rio Grande, divisa com Minas Gerais, onde está localizado o reservatório de Marimbondo, um dos maiores controlados pelo ONS.
 
Abrangendo a região de São José do Rio Preto, o reservatório está com 20,4% do seu volume útil — queda de 76% em relação a junho de 2013.
 
O próprio rio Grande, a 140 quilômetros de Rio Preto, já apresenta recuo de 700 metros em seu leito.

Outro exemplo de escassez de água atinge o Rio Pardo, na região de Ribeirão Preto.
 
De acordo com o Departamento de Água e Energia Elétrica (Daee) daquela região, o rio está com nível entre 55 e 80 centímetros em trechos de Ribeirão Preto, e já é possível atravessa-lo a pé. Realidade possível somente em 1963, quando o rio ficou com espelho d’água com 53 centímetros.

Já no Rio Piracicaba, que compreende a região de Campinas, a vazão e a profundidade estão bem abaixo da média histórica para julho.
 
De acordo com o Daee, no início da semana o volume de água estava em 13 mil litros por segundo e a profundidade em aproximadamente 90 centímetros.
 
A média para o período é de 67 mil litros de água por segundo e de 1,54 metro, respectivamente.

Segundo informações do último relatório da ONS, a Bacia do Rio Paraíba do Sul, de onde o governo de São Paulo pretende transpor água para o Sistema Cantareira, também atravessa uma crise de estiagem que pode deixá-la com apenas 1,8% da capacidade já em novembro.
 
O nível seria o mais baixo da história dos reservatórios que abastecem a região do Vale do Paraíba, com 4 milhões de pessoas. O Rio Paraíba do Sul está com vazão de apenas 1,1 metro cúbico por segundo.

Cantareira

Ao longo da semana passada, o nível de água do Sistema Cantareira caiu 0,8 ponto percentual entre segunda e sexta-feira.
 
Segundo dados da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp), o reservatório passou de 17%, registrado no segunda-feira (21), para 16,2% na sexta. Há exatamente um ano, o volume de água era de 53,8%. 
Nas outras represas, o Sistema Alto Tietê (composto pelas represas Ponte Nova Paraitinga, Biritiba-Mirim, Jundiaí e Taiaçupeba) estava, na sexta-feira, com 21,7% de volume de água.
 
Realidade bem diferente a registrada em julho do ano passado, quando o sistema estava com 62,6%.
 
O Sistema Guarapiranga também recuou e o manancial chegou a 67,1%.
 
O Cantareira já perdeu 33% do seu chamado volume morto e o Alto Tietê está com cerca de 20% de sua capacidade. 

Razões

Jussara Cabral Cruz, especialista em recursos hídricos e saneamento ambiental, acredita que existe uma dificuldade institucional para a gestão da água em todo Brasil.
 
“Hoje a crise de água é uma crise institucional. Precisa haver maior trânsito de informações dos segmentos que tratam dos assuntos relacionados ao sistema hídrico. Ministérios e secretarias que tratam diretamente sobre água muitas vezes não se conversam”, apontou.
 
Para a professora, que também preside a Associação Brasileira de Recursos Hídricos (ABRH), o Plano Nacional de Recursos Hídricos, que no ano que vem completará 18 anos, tem que ser integrado aos planos de resíduos sólidos e saneamento, caso contrário as eventualidades climáticas pegarão a todos os governantes de surpresa.
 
“As questões que envolvem água nunca estiveram na pauta dos governantes”, finalizou. 


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